Entrevista
“As Tecnologias possibilitam
termos a escola no mundo e o mundo na escola.” (Tatiany Azevêdo, 2012)
Foto: arquivo pessoal
A professora
Tatiany Azevêdo, respeitado nome na Educação da região do Seridó, é graduada em
Pedagogia pela UFRN, especialista em Metodologia do Ensino Básico e Superior
pelo ISESF/PB, especialista em Língua Inglesa e em Mídias na Educação pela UFRN,
onde desenvolveu o projeto A
videoconferência no ensino-aprendizagem da Língua Inglesa. Atualmente cursa
Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela FIP e iniciará o
mestrado em Ciências da Educação no próximo ano, pela Universidade Lusófona de
Portugal.
Tem vasta
experiência profissional na área de Educação como docente no Ensino básico e
Superior no Curso de Pedagogia em Universidades como a UVA, FIP e IFETE. Foi
Secretária Municipal de Educação na Gestão de 2000 a 2004 e na gestão de 2009 a
2011, onde foi contemplada com o Prêmio Palma de Ouro na Educação – Os 100
melhores Secretários de Educação do Brasil por três vezes consecutivas e foi a
idealizadora e coordenadora do Projeto PROEJAFLORES, premiado na 4ª edição do
Prêmio ODM Brasil como um dos 30 melhores projetos de Educação do Mundo. Atualmente exerce a função de Secretária de
Educação Adjunta no Município de Tenente Laurentino Cruz/RN, onde também é
coordenadora Municipal do PROINFO – FNDE/MEC e do Pacto pela Alfabetização na
Idade Certa.
É presidente do
Conselho Municipal de Educação- CME e do Conselho de Direitos da Criança e do
Adolescente – CMDCA.
Trabalha com
formação de professores nas áreas de Programação Neurolinguística – PNL, Gestão
Escolar, Coordenação Pedagógica, Avaliação, Alfabetização e Letramento,
Metodologia do Ensino, Relações Humanas, Projetos Pedagógicos, Mídias na
Educação, Currículo Escolar e Projeto Político Pedagógico, entre outros temas na área
da Educação.
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Mais Escola: O que são exatamente as
novas tecnologias que estão sendo aplicadas na educação?
Aliar Tecnologia à Educação é um
desafio. O desafio é mundial, mas pode ser ainda mais severo no Brasil, devido
a eventuais lacunas na formação e atualização de professores e a limitações de
acesso à internet - problema que afeta docentes e discentes.
Quando falamos de novas tecnologias fazemos
referência, principalmente, àquelas digitais. Hoje, sabemos que a tendência é
de que haja uma convergência de tecnologias e mídias para um único dispositivo.
O essencial é que este dispositivo possua ferramentas de produção colaborativa
de conhecimento, de busca de informações atualizadas. Isso possibilita uma
comunicação multidirecional, na qual todos são autores do processo ou, pelo
menos, têm potencial para ser.
Mais Escola: Quanto aos efeitos
no uso dessas ferramentas, são positivos ou negativos para o desempenho dos
alunos?
Vivemos numa sociedade
informatizada. Não podemos negar o contato com a tecnologia justamente para a
população menos favorecida que, em geral, só teria condições de acessá-la no
ambiente escolar. Pesquisas mostram resultados promissores quando as
tecnologias de informação e comunicação (TICs) são utilizadas de forma
adequada, quando seu uso é orientado para a aprendizagem, o exercício da
autoria e o desenvolvimento de produções em grupo.
Mais Escola: Como elas
devem ser usadas do ponto de vista pedagógico?
As novas tecnologias podem ser
usadas de diferentes maneiras, mas podem trazer soluções mais eficazes em
projetos que envolvem a participação ativa dos alunos, como em atividades de
resolução de problemas, na produção conjunta de textos e no desenvolvimento de
projetos. O fundamental nessas tarefas é fazer com que os alunos utilizem a
tecnologia para: chegar até as informações que são úteis nos seus projetos de
estudo, desenvolver a criatividade, a co-autoria e senso crítico.
Mais Escola: Na era da
tecnologia, como serão as salas de aula do futuro?
As tecnologias possibilitam termos
a escola no mundo e o mundo na escola. A primeira mudança é a expansão do
espaço e do tempo. Rompe-se com o isolamento da escola entre quatro paredes e
em horários fixos das aulas. Isso,
porque o conhecimento não se produz só na escola, mas também na vida - numa
empresa, num museu, num parque de diversões, no meio familiar. Tais espaços
poderão se integrar com as práticas escolares e provocarão uma revisão no
conceito de escola e de currículo. Os equipamentos serão bem diferentes,
estarão disponíveis em qualquer lugar, talvez nem tenhamos que carregá-los. A
conectividade é que vai nos acompanhar em todos os lugares.
Mais Escola: Quais serão as
principais ferramentas dos professores? Que tipo de recurso já está sendo
utilizado?
Já existe uma série de
instrumentos sendo utilizados pelos professores em todo o Brasil. Os blogs, por
exemplo, são bastante disseminados entre os docentes. O WiKi, que é um programa
virtual de produção colaborativa de textos, também. O Google Earth e o Google
Map que são serviços de pesquisa e visualização de mapas e imagens de satélites
da Terra gratuitos na web. Entretanto há outros recursos, como simuladores que
permitem visualizar fenômenos da natureza ou do corpo humano que não teríamos
condições de acompanhar se não fosse virtualmente; os simuladores propiciam
também compreender o significado de funções matemáticas abstratas por meio de
testes de hipóteses e da representação gráfica instantânea. Outra importante
ferramenta é o uso de programas que possibilitam videoconferências para o
ensino-aprendizagem de línguas.
Mais Escola: A
senhora vê algum tipo de resistência nas escolas brasileiras à incorporação da
tecnologia?
Não acredito que haja uma
resistência no sentido de o professor acreditar que a tecnologia é maléfica,
mas, sim, no sentido de que ele não sabe como utilizar as novidades. Não
se trata de saber ou não usar um computador. Isso é o menor dos problemas. A
questão em jogo é como usar equipamentos e recursos tecnológicos
em benefício da educação, para fins pedagógicos. Esse é o “X” da questão.
Mais Escola: Como se
sabe, nem tudo o que há na internet tem utilidade educacional sendo que, certas
vezes, ela assume justamente o papel contrário. Um professor pode confiar na
internet como fonte de pesquisa segura a seus alunos?
A Internet é uma importante fonte de pesquisa para alunos e professores.
As informações erradas/falsas que encontramos na rede também ocorrem na mídia
impressa. Cabe a nós, educadores, desenvolver uma postura crítica sobre o
conteúdo dessas informações e ajudar nossos alunos a também desenvolverem essa
habilidade.
Mais Escola: O que está
sendo feito hoje em termos de formação de professores?
No Brasil, todos os programas
voltados para TICs na educação têm a preocupação de capacitar os professores.
Mais do que permitir o acesso à tecnologia, os programas trabalham a preparação
dos educadores. E isso é uma questão de longo prazo, porque a formação se dá ao
longo da vida, tem que ser continuada e voltada para a própria prática. Além
disso, temos hoje várias pesquisas sendo desenvolvidas nesta área e o Brasil se
destaca por ter um projeto de tecnologias na educação que integra a formação de
educadores, a prática de uso de tecnologias e a pesquisa científica. No caso do
Município de Tenente Laurentino, está sendo iniciada a Rede de Formação do
PROINFO Integrado, com o primeiro curso que é o de Introdução à Educação
Digital – 40 horas, que se encontra atualmente com a frequência de 43
cursistas. Este é o início de uma nova forma de se pensar e se fazer educação.
Mais Escola: Como seria, em sua
opinião, o modelo ideal de escola do futuro? Seria uma escola em que o aluno
produziria seu próprio conhecimento tendo como ferramenta as TICs?
Em 1923 Freinet já falava sobre a
proposta de uma escola na qual o aluno utiliza a autoria no seu processo de
aprendizagem. O que eu acredito é que com o uso das TICs essa proposta de
escola de autoria, na qual o professor e o aluno assumem a responsabilidade
pelo ensino e a aprendizagem pode se tornar uma realidade, porque a geração
interativa, ou geração 2.0, é formada por jovens que vivem cercados de
ferramentas tecnológicas. Dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da
Informação e Comunicação (CETIC) mostram que os cidadãos entre 10 e 24 anos são
maioria na rede, passam em média três horas por dia na frente do computador e
costumam ser usuários habituais de redes sociais. Então podemos dizer que esses
jovens já têm uma vivência muito grande com a tecnologia e se o professor
souber canalizar essa característica para a educação pode conseguir bons
resultados no que se refere à aprendizagem.